Enfim APOSENTADO

                             Parece que foi ontem eu, menino ainda, procurando um trabalho, qualquer que fosse ele para eu ganhar um dinheiro para ajudar meus pais e ainda sobrar algo para eu comprar picolés no campo de futebol aos domingos. Depois, o primeiro salário, mesmo sem carteira assinada, que se repetiram por belos tres anos, isso depois de ter passado pelo Exército Brasileiro recebendo meio salário. Tudo serviu para meu crescimento como pessoa. E passaram-se os  30 anos de contribuição à Previdência Social, exigida por lei. Enfim, chegou a hora de fazer a última continência fardado, passar pelo Sentinela e voltar, outro dia, quem sabe, mas sem farda. Sem preocupação com o horário ou demandas para aquele dia ou semana.
                             A saída compulsória ou "expulsória" talvez seja mais traumática porque somos obrigados a sair. Mas a saída voluntária, quando se pode ficar mais alguns anos, após análise dos prós e contras, é algo inexplicável. Momento de agradecer a Deus pela oportunidade de conhecer a Instituição, ser acolhida por ela, viver por ela durante tanto tempo e poder passar para a reserva, não sair, pois isso nunca acontece com quem usa a farda da PMMG.
                            Os primeiros dias, como ouvia dizer, a gente dorme e acorda pensando que não deixou o status de ativo. Aos poucos as lembranças vão ficando menos frequentes e só a amizade conquistada permanece. Não sinto saudade da minha sala, do que eu fazia, do que eu planejava. Mas me orgulho por ter vestido a farda da Instituição, na certeza de que fiz tudo para honrá-la.
                            Agora é bola pra frente. Correr, nadar, jogar futebol, caminhar pra ficar bem durante muito tempo, até que as consequências da idade avançada comecem aflorar. Agora é hora de acompanhar o crescimento físico, intelectual e profissional de minhas filhas. Agora é hora de retribuir a Deus, parte das infinitas bêncãos concedidas ao longo de tantos anos. Trabalhar para alguma ONG séria. Cuidar dos menos favorecidos. Poder ajudar alguém que não possa pagar os estudos.
                            Agora é hora de Brincar de Viver.