quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Restaurante Campestre e Venda do Candian



Ontem chamou-me  à atenção uma postagem no Facebook, sobre o Restaurante Campestre, de Campolide. Zona Rural de Antônio Carlos. Bateu uma saudade incomensurável, pois eu nasci e vivi minha infância lá. E o Restaurante, anexo à Venda, tradicional venda, era referência na região. Lembro-me do sucesso faziam os dois comércios, da mesma família, dos Candian. 

Salvo engano, funcionava somente aos sábados e domingos e feriados, ou, se funcionava nos outros dias, não sei dizer, pois era criança. Só sei que era um movimento intenso de veículos e pessoas ali. Muita gente bonita chegando e saindo. Carrões bonitos de todas as marcas. E, como não podia faltar, as músicas tocadas em altura boa de se ouvir ficaram na memória. 
                       
Como falei da Venda, nunca mais vi uma igual aquela, do Bebeto e Neném Candian. Encontrava-se de tudo. De a A a Z, até querosene para as pessoas que ainda não haviam sido contempladas com a luz elétrica. Aquele cheiro gostoso de manha, do pão que chegava, não senti em nenhuma padaria. As balas de todas as marcas e sabores, chicletes de anel, bolinha de gude de todas as cores...que saudade. Como esquecer da primeira vez em que fui eu mesmo comprar o papel de seda para fazer pipa? Nas férias, poder ler o jornal todos os dias cedo que o Bebeto levava de Barbacena, geralmente do Rio de Janeiro, quando podíamos saber o que acontecia com os nossos clubes do coração (o meu Flamengo). 
                                         
Postei no Facebook, comentando a postagem de uma moça da família, a Bianca, essa saudade e lembranças de tantos momentos. Disse que nunca me esqueci da bondade do Tadeu, que não era diferente dos outros,  quando o Freezer estragou e ele pediu para que a mulecada fosse avisada para buscar picolé de graça. Imaginem. Picolé era coisa rara na nossa infância e caro. Nós ganhamos mais de cinco...apesar da torcida, nunca mais estragou o freezer, mas valeu, aposto que muitos não se esqueceram. A bem da verdade, eu fui o segundo a espalhar, o Tadeu pediu ao José dos Reis, Pelé, que faleceu hoje. Ele poderia não falar pra ninguém, mas falou. Não havia animosidade entre nenhuma das crianças e adolescentes ali na localidade. E todos foram avisados.

Outra coisa marcante era nos finais de ano, quando o Papai Noel não era generoso conosco, na primeira semana depois do natal, nossas bolas e outros brinquedos já haviam se estragado e isso não era problema. O Willian, nos deixava andar na sua bicicleta e levava sua bola de couro para o campinho. Descíamos na bicicleta na descida do morro do Brejão( estrada que ia para a casa do Sr Fioro. E éramos muitos...nunca vi nenhum dos mais de trinta moleques saindo triste por ter sido mal tratado pelo amigo. 

Era o ponto de encontro ali dos amigos de todas as idades. Que tempo bom. Até o pondo final do ônibus era alí. Dificil entrar ou sair do ônibus sem primeiro dar uma paradinha na venda. Para beber nada. Só para conversar. Lá estava, ora Bebeto, ora Neném, ora Tadeu, ora Nandinho, ora os quatros ou dois, conforme a demanda. Como é triste passar  tempo. Algumas situações e pessoas a gente queria que fossem eternas.

Talvez se na época já houvesse tanto recurso para registrar tantos momentos bons, não seria tão prazeroso  falar. As imagens estão nítidas na memória e tudo parece que foi ontem. Ao Senhor Candian, Dona Rosa, Bebeto, Sandro e Nandinho, com certeza chegara até eles, o efeito de minhas orações que faço hoje e sempre. Quem sabe um dia nos encontremos para poder dizer em outra dimensão, um obrigado, que não pude dizer nesta.

Ao Bebeto o meu agradecimento não poderia deixar de ser especial. E graças a Deus eu tive a oportunidade de falar pra ele por várias vezes e ele se emocionava. Meus pais também falaram pra ela, Eu peço a Deus para que cubra de bênçãos todas as suas gerações vindouras. Em, 1975, meu pai trabalhando próximo a cada da Dona Créia (nunca soube o nome certo dela), fazendo  anotações de quantos veículos passaram,  em média naquela estrada de Campolide à Barbacena. Por volta de 23:00, numa noite daquelas em que em nossa região ainda fazia frio de abril a julho, o último carro que meu pai anotou foi uma Vemaguet.

Mal ele sabia que ali estaria a poucas horas de viver seus momentos mais tristes. Meu irmão tinha 12 anos, gêmeo comigo. Os mais velhos lembram dele. Era forte, alegre, brincalhão. Era menor que eu na época, porém mais pesado. Meu pai entrou no carro e, chegando  no trevo do Monte Mário, o carro  estragou. E começou a saga de minha família, naquele momento com uma mais um membro, o Humberto Candian. Ele nao só foi o condutor e proprietário do veículo disponível para levar um vizinho. Ele foi o amigo, o irmão, o vizinho, o Bom Samaritano.

Quando meu pai não aguentou mais carregar meu irmão no colo ele o fez. Foi da Boa Morte ao Ibiapaba, depois na Santa  Casa, depois na Maternidade. Não encontraram médicos. Por volta de 05;00 hora encontraram um médico, cujo nome nunca soube. Ele bateu no joelho do  Valquir e disse: "Sinto muito". Não soube mais o que aconteceu. Se o Bebeto contou em casa logo cedo. Só sei que minha mãe chegou por volta de 06:00 e disse que o menino estava bem. Aí nós, os irmãos, Eu, Mundinho, Nininho e Cida, com idade entre 12 e 15 anos conseguimos dormir. Por volta de 09:30 mãe, saiu dos efeitos do sedativo e começou a chorar, falando a verdade.
Depois disso já joguei bola com o Bebeto, tomei beliscões no campo, pois ele fazia muito isso. Discutimos sobre futebol, me xingou por ter bagunçado seu jornal e o recebemos sempre de braços abertos lá em casa quando ia falar de política.

Sobre a venda, sou capaz de desenhar o seu interior. Sei onde ficava tudo: Na primeira porta à esquerda, na parede esquerda ficavam material esportivo(lógico que eu não esqueceria isso), roupas, chapéu, botinas, guarda-chuvas,  cadernos, etc. etc. Seguindo mais ao fundo, ficava a sinuca, onde eu já passei horas vendo o povo jogar. Mais ao fundo, à esquerda, um banheiro que até hoje não sei quem mantinha limpo e era.  Ao fundo, eu cansei de ver o Sr Candian Jogando Baralho num cômodo, parece feito pra ele. Nunca aprendi jogar. Voltando à frente, ainda mais à esquerda ficava o balcão mais alto com as bebidas...ali eu tomei meu primeiro refrigerante, pago por um tio de Barroso, num domingo. Estava lotada a venda, como sempre. No prolongamento do balcão ficava a estufa com os salgados. Ali encontrava-se as coxinhas de frango que as Cozinheiras faziam, acho que com a supervisão da Dona Rosa ou Aparecida, que nunca mais encontrei. E eu já andei um pouquinho, tanto a passeio quando a serviço. Na estufa havia também os outros salgados(tira-gosto) cujo caldo suculento, na maior paciência os amigos vendedores sem cobrar mais por isso, molhavam o pão nesse caldo, quando pedíamos " me vende um pão moiado?" Até hoje não entendi porque tanta bondade. Um pouco mais à frente, já em frente à terceira porta, no meio, o balcão mais baixo, continha os pães, roscas, doces, o TARECO que nunca mais vi, mas não esqueci. Acima no balcão, nesta mesa direção, ficava a balança vermelha grande, e ao seu lado o que enchia nossos olhos quando crianças: o Baleiro!!!!!!!


Após o  baleiro, um metro e meio mais ou menos de balcão, onde líamos os jornal e no fim dele, a peça onde eram afixados os rolos de papel para embrulhos. Abaixo, como não poderia esquecer nunca, ficavam os papeis de seda, de várias cores...um portinha pequena por onde os proprietários passavam. Já quase na saída da última porta, lá no fundo, ficava o tambor, acho que de 200 litros, com querosene, e quase de frente pra ele, um banquinho de madeira, onde não sai da memória, o Sr  Candian, figura inesquecível. Alí, ele com seu jeito de Italiano quase que aliciava, no bom sentido,  os meninos para torcerem para o Vasco da Gama e Cruzeiro. Ali também ele colocou o apelido de quase todas as pessoas daquela época, por uma característica, fala, ou situação. Chico do Bibia, meu irmão mais, Velho, Soldado Valério, meu irmão mais novo, Tatu, o Darinho, Tomba Lobo, Catitu, Zangão, Sacola, etc...não meu apelidou porque eu cresci com o apelido dado pelo irmão que morreu, ainda no berço...
Reafirmando, quem dera se as pessoas para quem tivemos importância, um dia pudessem nos falar...mas com certeza, a alegria maior é poder estar escrevendo tudo isso. Poder dizer que no livro da minha vida, várias páginas contém um pouco dessas pessoas e fatos!






Anexei a música que mais tocava no Restaurantate. Linda! Citada pela Bianca, que vimos nascer e crescer...

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